terça-feira, 18 de agosto de 2015
terça-feira, 28 de abril de 2015
Liderança e chefia: o falso dilema
É verdade que muito já se escreveu
sobre liderança, mas o assunto jamais se mostra esgotado pela subjetividade de
suas definições.
Nesta chamada literatura de negócios,
o termo “liderança” é palavra-tema comum. E com o passar dos anos e a
popularização desta específica literatura, alguns clichês
se estabeleceram como "verdades absolutas", como por exemplo a falsa
equação de discordância entre os termos "chefe" e "líder",
e seus respectivos significados.
Ora, "chefe" e
"líder" não devem ser termos antagônicos. Eles não são antônimos. Pelo
simples motivo de não terem absolutamente nenhuma ligação entre si.
Em poucas palavras,
"chefe" é um termo ligado à ideia da organização de uma hierarquia. E não há nada de errado ou de
negativo com isto. A ideia de hierarquia denota a ideia de organização de
responsabilidades (empresarial, militar, familiar ou qualquer que seja), e
organizações (mesmo as democráticas) usualmente praticam o modelo hierárquico
como adequado e produtivo.
E "líder" é a denotação de
uma habilidade, isto é, o pressuposto de um indivíduo que detém o atributo da
liderança.
Isto quer dizer que um líder não
precisa ser necessariamente um chefe. (E que a liderança portanto está ao
alcance de todos por ser esta um atributo pessoal, uma habilidade, um estado de
espírito, uma vocação desenvolvida.) E que um chefe propriamente dito pode ou
não ser um habilidoso líder. Em suma, porque liderar significa dar norte,
inspirar, animar, motivar, entusiasmar, cativar, influenciar. E isso pode
partir da chefia ou não.
Portanto, não confundir (ou contrapor)
chefia com liderança. Em duas palavras, meu chefe pode ou não ser meu líder. E
meu líder (aquele que me inspira, influencia, cativa, anima, motiva e dá norte
aos meus pensamentos e ações) pode ou não ser meu chefe. Ele pode ser inclusive
meu subordinado, meu irmão mais jovem ou meu filho, meu aluno, meu discípulo.
Como conclusão, seja ou não seja
você um chefe (em qualquer modelo hierárquico constituído: empresarial,
familiar, militar etc.), desenvolva o atributo, a habilidade, o "estado de
espírito" da liderança sendo o porta-voz de uma causa pública virtuosa. Basicamente,
líder é aquele que não pensa apenas em si. Se a sua ideia, causa ou proposta
forem boas para qualquer coletividade específica (ou para uma única pessoa que
seja), você encontrará seguidores. E conquistará a lealdade e a confiança
dessas pessoas. E não apenas a sua obediência.
* Eduardo Peres é mágico, humorista e
palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em
2000. www.eduardoperes.com.br.
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
A inimizade do executivo com o intelectual
Esse artigo
pretende brevemente refletir sobre a conciliação de duas facetas tão distintas
mas imprescindíveis a homens e mulheres de negócios (ou pelo menos àqueles que
se pretendem inovadores e prósperos): as facetas do executivo e do intelectual.
Marilena
Chaui, quando perguntada no programa de entrevistas Roda Viva em 1989 sobre se
era possível conciliar a executiva com a intelectual, respondeu brevemente:
“Não, não é possível”. O caso de Marilena é emblemático. Intelectual conhecida,
filósofa, escritora e professora da USP, Marilena tem extensa e importante obra
literária publicada, (além de inúmeras contribuições em simpósios, conferências
e palestras em ambiente acadêmico, especulando sobre filosofia e militância
política), o que naturalmente exigiu-lhe dedicação para a ampla pesquisa e o
mero ato de se sentar para escrever. Ocorre que em 1988, a então prefeita
eleita de São Paulo Luíza Erundina a convidou para assumir a Secretaria de
Cultura. Marilena aceitou, e tornou-se portanto, pelo menos naquele momento, uma
executiva. É dever do executivo, sabemos, nomear e gerenciar equipes, idealizar
e planejar o futuro, delegar missões (ou simplesmente tarefas), gerenciar os
acontecimentos (ou os não-acontecimentos) ao longo do tempo por parte de sua
equipe, corrigir as rotas que eventualmente estejam equivocadas, cobrar,
incentivar, reconhecer e motivar sua equipe, fazer acontecer o que se planejou.
Em suma, uma rotina e um modelo mental radicalmente diferentes da rotina do
intelectual. O intelectual, por sua vez, dedica-se ao “ócio”, isto é, à
reflexão. Lembremos que “negócio” vem de “negação do ócio”: quando fazemos
“negócio”, negamos a nossa condição momentânea de intelectuais e somos
executivos. Quando nos dedicamos ao “ócio” (momentos de serenidade para a
reflexão, que em nada tem a ver com a ideia de descanso descomprometido), a
figura do intelectual se sobrepõe à outra. Basicamente conclui-se que de fato
não há como conciliá-las.
Pois: uma
carreira bem sucedida exige de nós o muito. Que sejamos reflexivos para sermos
criativos e inovadores – que tenhamos ideias e conceitos próprios no que se
refere à nossa condição de formuladores do pensamento: que sejamos
intelectuais. E exige-nos também a capacidade executiva, isto é, o poder de
realização, a capacidade de planejar e a disciplina e a competência para fazer
acontecer. Está dado o desafio: conciliar essas duas facetas.
A conclusão
à qual cheguei, meramente pessoal, mas que aqui divido com aqueles que possam
vir a se interessar: para manter em alto nível as duas vertentes, nada como a
disciplina da agenda. Uma vez na semana, (normalmente às sextas-feiras, mas nem
sempre), quando em São Paulo, a “agenda de trabalho”, de manhã à noite, é a
dedicação plena ao estudo, à pesquisa, à leitura de largo fôlego. Para isso, é
preciso “renunciar ao escritório”, isto é, delegar o que se pode delegar e
assumir a ausência sem culpa. Desta maneira, as leituras avançam, a pilha de
livros “a examinar” diminui e se renova, as novas ideias ocorrem e o vigor para
a volta à lida executiva se apresenta especialmente. Muito negócio e pouca
leitura não faz bem para o negócio. A leitura dedicada (não necessariamente
apenas em temas ligados diretamente ao negócio, mas especialmente àqueles que
aparentemente em nada têm a ver), como parte da agenda, por sua vez, além da
alegria de viver profunda que proporciona, faz e muito bem para os tais negócios.
* Eduardo Peres é mágico, humorista e palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em 2000. www.eduardoperes.com.br.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Significado
Abra a
janela. Ouça o barulho terrível da cidade em desespero. Agora feche. Silêncio
total. Esse é o silêncio que você comprou. Não, você não comprou uma
"janela anti-ruído". Você comprou silêncio. Mais do que isso: comprou
produtividade, sossego, sono de melhor qualidade, comprou saúde. Sim, prevenção
de stress, que pode lhe gerar um ataque cardíaco e lhe abreviar a existência.
Você comprou sobrevida! Esses três maços de cigarro diários que você fuma vão
lhe abreviar a vida? Não se preocupe. Essa "janela anti-ruído" compensará
este seu hábito insalubre. E aquele suco de caixinha sobre aquela mesa. Tão
mais caro que um suco de caixinha de marca qualquer. Mas esse tem
"gominhos de laranja como o suco da fazenda". Sim, você não tem uma
fazenda, mas pode se sentir um mega-investidor do agronegócio em um fim de
tarde bebendo um suco "com gominhos de laranja como feito na
fazenda". Logo ao lado dele, em momento oportuno, prove aquele chá mate
também de caixinha, caixinha essa marrom, porque ali diz que é o "chá mate
com carinho da vovó". Que coisa gostosa. Isso não é uma bebida. É
praticamente um carinho. Aquele pacote de folhas de sulfite tem "o branco
que lhe inspira as ideias". E o aviso grudado na parede do banheiro de hotel
lhe recomenda usar a mesma toalha "para salvar o planeta". Exatamente
como aquele pacote de maizena. Ele diz, em letras verde-e-amarelas
"Maizena no ritmo da Copa!". Como? Sim, não precisa fazer muito
sentido. Amido de milho no ritmo, no pique, alegria. E a Copa, o hexa, o
Neymar. A Copa passou, mas a Maizena só vence em setembro de 2017. A caixinha
venceu antes, ainda no primeiro tempo, no terceiro ou no quarto gol.
O mundo dos
negócios - dos produtos, dos serviços, das imagens institucionais, da política,
dos relacionamentos, do que quer que seja - é a rigor o mundo das ideias. Do
significado. Do espírito. Do conceito. Do que está por trás ou para além do
material. Imprima um espírito, um conceito, uma ideia, um "clima qualquer"
ao seu negócio e é capaz de ele ser notado e consumido. O mundo (e entenda o
termo "mundo" na proporção que bem entender, na figuração que
desejar, como metáfora ou sujeito) só existe a rigor através das ideias. E em
negócios este (e qualquer outro) conceito filosófico se aplica, uma vez que o
mundo dos negócios nada mais é do que uma amostragem do mundo real, com suas
contradições e virtudes, com suas injustiças, alegrias, ativos e demandas.
Ao fazer
negócio, não faça negócio. Produza significado. Ao liderar, imprima significado
às tarefas delegadas à sua equipe. Ao vender, comunique significado na
figuração de benefícios, e não apenas diga frases feitas como "este sai
bastante". As pessoas começam a considerar lhe ouvir por um minuto quando
elas percebem em você um "porta voz de algum significado". Com esse
seu "esse sai bastante" você não vai "bater sua meta". A
não ser que seu gerente tenha atribuído algum significado à tal
"meta".
Professores
não dão aulas, eles produzem experiências de reflexão que significam sabedoria,
auto-realização, crescimento existencial, alegria de viver. Jogadores de
futebol nos apaixonam pelo significado do mito da vitória no ambiente mítico da
competição. Talvez porque vistam uma camisa que os nossos pais nos ensinaram a
amar, aquele escudo do time pelo qual torcemos sem saber direito por que. E nos
comovemos com um filme pelo significado que contém. Quantas vezes usei a
palavra significado nessa reflexão? Não contei. Se isso significar algo para
você, conte. Senão, use o tempo para refletir: o que significa estar aqui
agora? Fazer o que faço? Planejar e almejar o que sonho? O que a rigor
significa o conjunto dos meus esforços e pensamentos? A quem eu importo? O que
fazer da vida, do trabalho, do tempo, dada essa ideia?
* Eduardo Peres é mágico, humorista e palestrante para treinamento motivacional. Foi Campeão Mundial de Mágica em 2000. www.eduardoperes.com.br.
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